JTAM – Capítulo 11

Capítulo 11

─ Hora de acordar, Bela Adormecida ─ Jessica escutou alguém chamar. Muito lentamente ela abriu os olhos e enxergou Lily ao lado da cama.

─ Lily..? ─ ela disse sonolenta. ─ Quando você chegou? E por que veio tão cedo?

─ Cedo? Do que está falando? ─ Lily disse rindo. ─ Já passou das onze da manhã. Já cheguei há meia hora.

─ Já passou das onze? Verdade? ─ ela disse se espreguiçando. ─ Desculpa, eu tinha toda a intenção de estar acordada quando você chegasse.

─ Tudo bem, eu não ligo. Você teve um bom Natal?

─ Foi um Natal adorável. E você? ─ E continuaram assim, uma conversa emendando na outra pelo resto do dia.

Jessica precisou admitir para si mesma que realmente sentia falta de conversar com a amiga, só as duas. Jessica conseguiu contar todo o drama dos últimos dias de aula e Lily escutou atentamente.

─ Ah Jess, nunca mais quero deixar nossas conversas atrasarem assim. Vou me policiar mais daqui para frente, no próximo semestre estarei mais presente.

─ Gosto desse seu plano, dou apoio total ─ Jessica disse rindo. ─ Meu último semestre não foi dos melhores.

─ Você bem que poderia arrumar um namorico ─ Lily deu um empurrão brincalhão no ombro da amiga. ─ Tornaria as coisas bem mais fáceis.

─ Só para constar, eu não escolhi ser a solteirona da casa. O que será que espanta os garotos? Muita areia para o caminhão deles? ─ brincou e elas gargalharam.

─ Preciso te pedir um favor ─ Lily disse respirando fundo. ─ O Tiago queria passar o Ano Novo comigo. Você se importa se ele vier passar a noite aqui? Assim no dia seguinte podemos voltar para Hogwarts todos juntos. Eu deixei bem claro que só vai rolar se você topar.

─ Não me importo. Ele pode vir, sim ─ ela disse imaginando como seria ter o Tiago como hóspede. ─ Acho que será divertido, certamente o Will vai amar.

─ Acha que seus pais vão se incomodar?

─ Está de brincadeira? Eles ficarão encantados ─ ela assegurou. ─ Mas podemos conversar com eles para ter certeza.

─ Obrigada, ele vai enviar uma coruja amanhã e já envio a resposta.

O dia seguinte foi muito divertido. Jessica sempre amou estar em casa durante as festas de fim de ano e com a Lily presente fazia tudo parecer melhor. Passaram o dia com o Will e a Sra Thompson, foram ao shopping e tomaram sorvete em uma lanchonete perto da casa da Jessica. E os dias que seguiram foram igualmente repletos de animação.

─ Agora que estou pensando… ─ começou o pai na hora do jantar. ─ O que foi feito do seu admirador secreto?

─ Vamos dizer que terminou antes mesmo de começar.

─ Você ao menos descobriu quem era? ─ ele continuou.

Quando ela recebeu o anel no Natal, não mostrou o cartão para ninguém, na verdade tinha mentido dizendo que era outro presente da Lily. Na hora sentiu um pouco de remorso, mas mais tarde deitada na cama, pensou que foi uma boa saída, não queria ter que explicar o porquê do admirador nunca mais se revelar, nem ela sabia ao certo. A farsa estava indo bem, até o pai começar com os questionamentos.

─ Não cheguei a descobrir. ─ O pai estava com uma expressão confusa, mas Jessica tentou ignorar, ainda se esquivando da história completa.

─ Quando seu amigo vai chegar, Lily? ─ perguntou Sra Thompson, nitidamente tirando o foco de Jessica. A farsa do Natal podia ter funcionado com o pai, mas ela tinha quase certeza que a mãe não tinha comprado a história.

─ Ele disse que pela manhã ─ respondeu Lily.

─ Como ele vem? ─ perguntou Sr Thompson.

─ Eu disse que o jeito mais fácil seria aparatando. Ele deve chegar por volta das dez.

Aquela noite, Jessica teve dificuldades pegando no sono. Na manhã seguinte, o Tiago estaria lá. Eles sairiam juntos e ela seria a vela, era muito deprimente. Não estava se arrependendo de ter concordado com a visita dele, era o sentimento de ser a sobra da dupla que a incomodava.

Ela tinha visto o carro de um conhecido vizinho parado na rua mais cedo, o que indicava que ele também estava passando férias em casa. Eram amigos desde criança e se afastaram depois que Jessica começou em Hogwarts, apesar de terem saído juntos alguns verões. Brian Mitchell tinha sido o primeiro e único namorado de Jessica, mas os mundos deles eram muito diferentes agora. Mesmo assim, o chamaria para sair, seria mais tolerável desse jeito, como tinham um acordo de continuarem amigos depois que terminaram, não seria estranho.

Na manhã seguinte o entusiasmo na hora do café era visível. Era um sábado, então o pai de Jessica também estava presente. Will tinha resolvido colocar o uniforme completo da Grifinória e carregava a varinha falsa para todos os lados.

Depois que comeram, Lily foi para a sala esperar o Tiago. Jessica preferiu ficar ajudando a mãe na cozinha, mas as duas trabalharam rápido e antes do horário previsto para ele chegar, ela já tinha se juntado ao resto do grupo na sala de visitas. Quando o relógio bateu as dez um alto estalo ecoou pela casa, fazendo todos os familiares de Jessica gritarem assustados. Ela esquecera de os avisar desse detalhe barulhento.

Em um momento, Jessica estava sentada no sofá, relaxada, no próximo estava em pé e alerta, pronta para arrancar a cabeça de um. A única coisa que a tinha impedido de fazer uma besteira era a surpresa completa do que via na sua frente. Ela esperava ver Tiago Potter aparecer na sua frente e ninguém mais, mas havia outra pessoa presente, o próprio Sirius Black estava em pé na sua sala.

Jessica exerceu todo o autocontrole que possuía para não avançar em cima do infeliz e lhe arrancar os olhos. Nem ligava para mágica naquele momento, qualquer feitiço seria misericórdia demais. A vontade que tinha era de infligir dor com as próprias mãos. Não tinha antecipado esse surto de ódio quando o visse, o sentimento veio forte, instantâneo e violento.

A surpresa do visitante inesperado também deixou os outros sem reação, pelo menos foi isso que Jessica assumiu, não teve vontade de olhar ao seu redor para ver o que os outros estavam fazendo. Os olhos estavam fixados em Sirius e mais ninguém. Ele até que tentou sustentar o olhar por um tempo, mas o que viu nos olhos de Jessica deve o ter assustado, porque ele deu um passo para trás do Tiago. Jessica julgou que fizera bem, só não sabia se era porque Sirius era esperto e sabia o perigo que corria ou se estava sendo um grande covarde.

─ Sejam bem-vindos vocês dois! ─ a Sra Thompson finalmente quebrou o silêncio. ─ Qual de vocês é o Tiago?

─ Sou eu. E você deve ser a Sra Thompson, Lydia, é isso? ─ Jessica sentiu que a pergunta tinha sido direcionada a ela, mas o plano de distraí-la falhou, ainda fuzilava Sirius com o olhar. ─ É um prazer. Preciso me desculpar, eu precisei trazer um amigo comigo. Ele veio ficar na minha casa ontem de madrugada e não tive tempo de enviar uma coruja perguntando se tudo bem que ele viesse.

─ Claro que está tudo bem ─ assegurou Sra Thompson. ─ E você quem é?

─ Sou Sirius Black ─ ele disse estendendo a mão. ─ É um prazer conhecê-la. Não quero ser um incômodo.

Jessica bufou irritada, ela sentiu o olhar de reprovação da mãe e não ligou, continuava pensando em maneiras de fazer o Sirius pagar pelo que fez com o Severo. Will parecia ser o único que não tinha percebido a tensão no ar.

─ Vocês são de famílias de bruxos, não são? ─ Will perguntou animado.

─ Sim, nossos pais, avós, bisavós e assim por diante ─ Tiago respondeu.

─ Uau, que maneiro ─ Will se agitou.

─ E pelo visto temos um bruxinho aqui também. Sabe algum feitiço? ─ Sirius perguntou.

Foi a gota necessária para fazer o copo transbordar.

─ Claro que não, você é burro ou o quê? ─ Jessica disse rispidamente. ─ Você sabe muito bem que sou a única da minha família.

─ Jessica Thompson ─ a voz alterada da mãe não a abalou. ─ Não foi esse tipo de criação que te dei. Desculpe-se agora!

─ Não tudo bem ─ Sirius estava calmo, e isso irritou Jessica ainda mais. ─ Eu mereci isso. Na verdade, estou até surpreso de ainda estar com todos os meus membros intactos.

─ Sirius não é hora para brincadeiras… ─ Tiago começou, mas Jessica logo o cortou.

─ Eu posso cuidar disso para você ─ Jessica vociferou. ─ Espero que não tenha muito apego à sua cabeça.

─ Isso parece sério ─ o pai se preocupou. ─ Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?

─ Eu posso conversar com a Jessica em particular? ─ Sirius arriscou. ─ Tudo bem?

A última pergunta foi direcionada a ela. Parte dela estava curiosa para saber qual a explicação que ele daria por aparecer na casa dela, não tinha dúvidas que ele tinha antecipado como ela reagiria. Então, concordou com a cabeça e todos entenderam que era hora de deixar o ambiente.

─ Eu consigo imaginar como você deve estar furiosa por eu chegar na sua casa sem avisar ─ ele disse cauteloso, quando fecharam a porta da sala os deixando sozinhos. ─ Eu posso explicar, mas eu preciso que você escute, pode ser?

─ Tudo bem.

─ Obrigado. ─ Ele apontou para o sofá, convidando-a a sentar, mas ela prontamente ignorou. Sirius suspirou derrotado. ─ Isso não foi premeditado, eu achei que passaria a virada do ano com minha família, mas as coisas saíram um pouco do controle lá em casa. Não sei se você tem conhecimento disso, mas não sou a pessoa favorita dos meus familiares. Eles acham que o fato de eu estar na Grifinória trouxe desonra aos Black.

“Eu normalmente só ignoro esse tipo de ataque, mas dessa vez a briga com minha mãe foi das feias. Ela me chutou para fora, mas isso tem pouco efeito, porque quando ela entrou no meu quarto para dar a notícia que não tinha mais lugar para mim naquela casa eu já estava de mala pronta para partir. Então eu saí e fui para casa do Tiago. Não fazia ideia de que ele viria para cá, eu teria ficado lá, mas os pais deles estão na África. Minhas escolhas eram vir para sua casa ou passar o Ano Novo sozinho. Então Tiago me convenceu a acompanhá-lo. Não queria que eu ficasse sozinho”.

Ele fez uma pausa pra ver se a Jessica diria alguma coisa, quando ela não disse nada ele continuou:

─ Se me deixar ficar, eu fico fora do seu caminho, não vai nem notar que estou aqui. Eu sei que eu estraguei tudo e que não tenho chance alguma com você. Mas ficaria muito feliz se pudéssemos ser amigos.

Mais uma vez esperou alguma reação, mas Jessica permaneceu calada.

─ Se você quiser pensar um pouco eu posso ir… ─ ele parecia derrotado.

─ Não preciso pensar, já tenho minha resposta. ─ A mente da Jessica trabalhava rápido enquanto ele falava, as engrenagens estavam a todo vapor. Ela sentou no sofá e fez sinal para ele fazer o mesmo. Observou o semblante preocupado do Sirius até que se tornasse mais tranquilo. ─ Sinto muito pelo o que aconteceu com sua família. Não tem nada de errado em pertencer à Grifinória, podemos ter as nossas diferenças, mas não tenho dúvidas que é lá que você pertence. O que me preocupa é seu temperamento e quão rápido as coisas fogem do seu controle, você realmente precisa trabalhar nisso.

─ Eu sei ─ ele concordou prontamente.

─ Quero que saiba que não estou brava com você por causa da Ashlyn, é por causa do que aconteceu com Severo.

─ Eu sei disso também.

─ Eu entendo que a briga foi mútua, que vocês se provocaram. Ele até assumiu parte da culpa. O que você fez que o deixou tão machucado?

─ Foi um acidente. Eu usei um encantamento que vi escrito no livro de poções dele quando estava de passagem, não fazia ideia do que aconteceria. Só dizia que era para inimigos, então resolvi usar nele, antes dele usar em mim. Parecia lógico na hora…

Ele deixou a frase vagar, pensativo, parecia até um pouco arrependido. Jessica resgatou na memória o livro do amigo. ─ Você quer dizer sectumsempra?

─ Isso mesmo. Por favor, não use isso em mim ─ Sirius brincou.

Jessica não conseguiu conter o riso. ─ Você precisa tornar tudo uma piada?

─ A vida já é séria demais ─ ele deu de ombros. ─ Então, sim, se encontro uma abertura para um pouco de humor não perco a oportunidade. É minha maneira de me rebelar contra o peso esmagador que a vida às vezes tem.

─ Você realmente é muito rebelde.

─ Já ouvi isso uma ou duas vezes ─ ele brincou. ─ Então, posso ficar?

─ Sim, com a condição que irá se comportar.

─ É um trato.

─ Mais uma coisa. E estou falando sério. Severo é meu amigo e se você realmente está disposto a sermos amigos, você vai ter que aceitar isso e não vou tolerar as baboseiras que sei que dizem dele.

─ É um trato ─ ele repetiu. ─ Mais alguma coisa?

─ Teria ficado ainda mais furiosa se você tivesse ficado sozinho. Foi uma boa escolha, apesar de muito perigosa. Você foi corajoso em aparecer aqui, estava realmente fazendo planos para te esquartejar.

─ Falando nisso ─ ele disse com um sorriso perverso. ─ Estou um pouco curioso para saber o que estava planejando fazer com minha cabeça depois de arrancá-la.

Jessica rolou os olhos e levantou do sofá. ─ Cuidado, Sirius Black. Porque o único motivo pelo qual você está ficando é porque não tenho intenção nenhuma de ser vela.

Ela saiu da sala e ele seguiu. ─ Isso foi uma piada?

─ Talvez sim, talvez não ─ ela brincou.

─ Srta Jessica Thompson, você me surpreende.

Já estavam na escada então Sirius que vinha atrás não viu o sorriso silencioso de Jessica. Encontraram Tiago, Lily e Sra Thompson no quarto de hóspedes.

─ E aí ─ Tiago começou assim que abriram a porta. ─ Se resolveram?

─ Sim! ─ Sirius disse animado ─ Resolvemos que nosso amor é forte demais, nos casamos amanhã.

─ Deixa de ser besta ─ Jessica entrou rolando os olhos novamente. ─ E essa coruja aí?

No beiral da janela uma pequena coruja marrom segurava uma carta no bico. ─ É para você, e o bicho é bravo, não deixou ninguém pegar o envelope ─ explicou Tiago.

Jessica retirou o bilhete com facilidade e logo a coruja voou contente. Ela abriu o envelope e retirou o pedaço de papel.

Queria Jessica,

Recebi seu presente na manhã de Natal.

Gostei muito. Não precisava se incomodar.

Como sempre, você me surpreendeu.

Sinto sua falta, te vejo em breve

Severo Snape.

Lily pediu para ler e Sirius aproveitou a oportunidade para ler também. Jessica observou o rosto dele mudar e conseguiu perceber o esforço que fez para não fazer nenhum comentário.

“Bom menino” ela pensou.

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